No livro do Gênesis, é delineado que Deus, em sua magnificência, criou todas as coisas e, ao contemplá-las, reconheceu-lhes a bondade intrínseca. Contudo, quando da gênese do ser humano, divinamente concebido, percebeu-o como excelso, com uma excelência que superava as demais criaturas. O adjetivo "excelso" denota uma qualidade singular, revelando o inestimável valor da pessoa humana. O homem, moldado pelas mãos do Criador, é, portanto, a criatura mais significativa dentre todas na face da Terra, o que, por conseguinte, torna o aborto um ato que agride não apenas a humanidade, mas também a divindade.
Transgredir a integridade do ser humano é, em primeiro lugar, um ultraje contra Deus, o criador supremo. A análise do aborto, apenas sob a ótica racional, evidencia-se como um absurdo flagrante, dispensando, assim, qualquer incursão no terreno religioso para alcançar tal conclusão.
No reino animal, observa-se um instinto natural de preservação da vida, o qual se manifesta com maior intensidade no ser racional, ou seja, no ser humano, sendo este impulso especialmente notável na mulher, sobretudo após a maternidade.
Quem não testemunhou ou ouviu relatos de uma vaca, uma cadela ou qualquer outro animal que, diante do perigo iminente a seu filhote, defendeu-o com fúria? Crescido na ruralidade, deparei-me inúmeras vezes com tal fenômeno. Se, por acaso, nunca presenciou tal cena, ao menos deve ter ouvido falar de casos similares.
Este exemplo simplório é invocado para ilustrar a irracionalidade subjacente ao ato de abortar. Com todo respeito àquelas mulheres que, em algum momento, optaram pelo aborto, deve-se salientar que tais atos foram perpetrados com uma irracionalidade que nem mesmo os animais irracionais seriam capazes de manifestar; ao contrário, estes últimos protegem seus filhotes com veemência.
A vida, como o mais primordial e grandioso dom conferido à pessoa humana, é, ao ser contemplada na inocência de uma criança, uma manifestação da magnitude do amor divino. Em Sua infinitude, Deus cria o ser humano à Sua imagem e semelhança.
Aqueles que defendem o aborto talvez não tenham ponderado sobre as consequências de sua aprovação. Lamentavelmente, em nosso país, inúmeras pessoas são ceifadas de forma injusta, vítimas da violência. Recentemente, no Rio de Janeiro, testemunhamos diversos casos de homicídios perpetrados por arma de fogo, o que suscitou consternação e indignação na população brasileira, reações que não poderiam ser diferentes.
Entretanto, chama atenção a apatia diante das inúmeras vidas perdidas em todo o território nacional devido ao aborto, um contraste flagrante em relação à comoção suscitada pelas mortes violentas. Confesso minha perplexidade diante da indignação seletiva, questionando por que não se manifesta o mesmo sentimento diante das mortes resultantes de procedimentos abortivos.
Por que o assassinato de adultos é repudiado, enquanto o aborto não o é? Qualquer forma de assassinato é sempre uma atrocidade, sendo a morte de um inocente particularmente abominável. A sociedade, por princípio, não tolera tais atos. Cada vez que alguém perece de forma injusta, tal evento suscita revolta e indignação. Pergunto-lhes: há algo mais inocente do que um feto no ventre materno?
Por que ceifar a vida dos inocentes? Qual crime cometeram as crianças que ainda não nasceram? Se um adulto, já tendo experimentado a beleza da vida, não pode ser privado desse dom, como pode uma criança, que sequer viu a luz do mundo, ser sujeitada ao aborto enquanto ainda está no ventre materno?
Por esses e muitos outros motivos, o aborto configura-se como um delito contra Deus, sendo, portanto, uma atrocidade inominável. Não há justificativa para o assassinato, e nada é mais aterrador do que ceifar a vida de um inocente ainda em gestação. Se o assassinato de um adulto é inaceitável, imagine tirar a vida de alguém que sequer nasceu!
O tema da descriminalização do aborto tem sido objeto de discussões, muitas vezes veladas, com o intuito de promover sua legalização. Meus irmãos, primeiramente, unamo-nos em oração por essa causa; em seguida, unamos nossas forças para impedir que tal lei desumana e terrível seja aprovada.
Já ouvi discursos de mães a favor do aborto, defendendo o mantra "o corpo é meu, faço o que quero com ele". Que lamentável equívoco! Tais pessoas não compreendem a verdadeira questão. Quando falamos de uma mãe grávida, falamos de duas vidas, e considerando que a vida é um dom absoluto, ambas devem ser protegidas e respeitadas.
Concluo estas reflexões com as palavras do amado Papa Francisco: "Por que a Igreja se opõe ao aborto? É uma questão religiosa? Não, não é! Não se trata de uma questão religiosa. É uma questão filosófica? Também não! Não é uma questão filosófica. Trata-se de uma questão científica, pois estamos falando de uma vida humana, e não é lícito eliminar uma vida humana para resolver um problema".